sábado, 13 de julho de 2013

Abismo chegou!!!

Hoje, eu, Elaine Velasco, responsável por este blog, venho compartilhar com vocês a imensa alegria que tive esta semana ao receber Abismo, o segundo livro da série Limiar. Na quinta-feira de manhã, estava eu dormindo bem tranquilamente quando meus cachorros começaram a latir e em seguida a campainha soou. Pensei comigo: "É o livro, o livro chegou!" Levantei correndo, com a cara amassada, quase atropelei o marido que apalermado saía do banheiro e ainda de pijama, corri para o portão, dando pulos de alegria quando vi que realmente se tratava de Abismo que havia chegado, fresquinho, recém saído da gráfica! Pareceu uma eternidade o tempo que levei para assinar os papéis e finalmente entrar em casa com a caixa de livros! Coração aos pulos, sem fôlego, abri a caixa e como acontecera com Limiar um ano antes, foi uma emoção segurá-lo em minhas mãos! Acho que não importa quantos livros você publique, a emoção sempre será a mesma. Folheando-o, pude ver que linda ficou a diagramação que a Editora Literata fez, um verdadeiro show! Troquei de roupa e imediatamente tirei uma foto para compartilhar minha alegria pelo face e demais redes sociais.
Reparem na cara inchada de quem acabou de acordar, rs. Até pensei em tirar uma foto melhor depois, mas sei lá, acho que essa "capturou" bem a alegria do momento. Depois disso, foi um corre-corre, levei para todos os familiares, amigos e leitores conhecidos poderem ver o quanto o livro ficou bonito! Aproveitei e já marquei a data da festa de lançamento: será dia 15 de agosto às 20 hs no auditório Haru Izumi, ao lado da escola Dom Silvio, no calçadão, na cidade de Itapeva. Mas se você não quer esperar até lá para ter seu exemplar autografado, entre em contato comigo pelo e-mail elainevelascoautora@gmail.com e aproveite o preço de pré-lançamento: R$ 25,00 e se você ainda não tem o primeiro exemplar da série, Limiar - Entre o céu e o inferno, aproveite para adquirir os dois pelo preço promocional de R$ 50,00!

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Booktrailer de Abismo

Foi divulgado hoje o booktrailer de Abismo, o segundo livro da série Limiar, da autora Elaine Velasco. Com ilustrações de Eddy Khaos e efeitos de Paulo Cezar Pires do blog Fun's Hunter, o vídeo deverá aguçar ainda mais a curiosidade de quem já leu o primeiro livro da série.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Conto do Fantativerso: Capítulo 5

Samael olhou o horizonte pensando em como fora fácil convencer Pietro. Sua guerra começaria em breve e estava confiante de sua vitória. Tinha a seu lado, além de outros anjos, vampiros e em breve sugadores de energia. Ouvira falar muito neles anos antes, mas sem nunca ter a plena certeza de que eram reais, e se o eram, como e onde viviam. Não lhe restava muitas escolhas a não ser alçar voo para a cidade de um garoto chamado Gabe. Sabia que mesmo que não estivesse no caminho certo, o moleque poderia lhe dar respostas dos verdadeiros sugadores.
Não soube por quantos minutos ou quantas horas haviam se passado desde de seu encontro com Pietro em São Paulo, contudo, resolveu descer lentamente e planar sobre um bosque esbranquiçado pela neblina que escondia a pequena cidade que procurava.
Pousou. Seus pés tocaram a grama úmida e ele balançou as enormes asas para afastar a fadiga da viagem. Olhou ao redor, ciente de que o que procurava espreitava sua presença, tão surpresos e consternados que Samael riu só de imaginar a feição daquelas criaturas diante de um legitimo anjo da morte.
Eu sei que vocês estão aí... – o anjo disse com voz afável. – Não tenham medo.
Nada além das corujas que piavam distante se fez ouvir. Nem mesmo o respirar ou passos de humanos eram ouvidos.
Temo que não tenhamos tempo para apresentações. – o anjo caminhou lentamente até uma árvore, sabendo que poucos metros depois dela, um rapaz o observava. – Vamos! Preciso de vocês.
Os passos fofos sobre a terra e as folhas foram ouvidos e o anjo se virou lentamente, encontrando próximo de si um jovem de cabelos claros que, de aparência sisuda o mediu com desprezo e depois sorriu.
O que é você? – Danny perguntou desconfiado.
Eu é que deveria fazer tal pergunta, moleque.
Não vejo razões para nos tratar como moleques. – uma segunda voz surgiu por entre as árvores. Gabe se aproximava também, os olhos tomados pelo branco da fome de energia. – Você tem a mesma aparência que a nossa.
Sou Samael, um jinni. Já vivi muitos anos além dos que vocês dois já viveram. Apesar de não estar muito certo, creio que eu tenha sido o responsável pela “criação” de vocês, visto que sou “pai” dos súcubos e íncubos, dos quais, acredito que vocês descendam.  
E quais as razões de sua vinda até aqui? Esse fim de mundo... – Danny sorriu desviando os olhos para o ambiente.
Estamos para entrar em guerra... Uma guerra contra seres que certamente virão atrás de qualquer criatura com dons sobrenaturais, o que inclui vocês.
Não somos seres de fantasia. – Gabe riu – Somos especiais...
Sim. – Samael abriu seu lustroso sorriso. – Assim como os vampiros também se acham “especiais”. – e fez sinal de aspas com as mãos e cheio de sarcasmo nos olhos.
Você disse vampiros? – o sorriso frouxo de Danny se desfez e ele pousou sua feição dura em Gabe como se trocassem pensamentos.
Não sei qual o problema de vocês com os sugadores de sangue... – Samael voou repentinamente até uma árvore baixa e de lá observou a cara dos dois jovens.
Digamos que às vezes eles gostam de sugar a energia das pessoas... Assim como nós. – Gabe se aproximou mais, sentindo-se confiante diante do jinni.
Hum... E digamos que eu possa proporcionar a vocês uma revanche depois de nosso embate? – Samael viu vantagem ali. Poder oferecer uma batalha dos sugadores de energia contra os sugadores de sangue. Seria épico.
- O que me diz Gabe? – Danny riu. A vontade de voltar a lutar crescendo em seu peito, rasgando-lhe a alma.
Não sei se os outros vão aceitar. – Gabe estranhou sua prudência. Nunca lutara contra vampiros, apesar de quando menino, ter presenciado uma luta sangrenta entre seu líder e o líder vampiro do país.
Eles não vão recusar a possibilidade de vingança. – Danny cuspiu as palavras fumegantes no chão.
—Estou  gostando de ver. – Samael bateu palmas e riu mais alto. – Só não digam que eu ofereci isso como pagamento. Sabem como são os vampiros...
Então Samael...  – Gabe parou para pensar. – Conte-nos mais sobre essa guerra que está vindo.


domingo, 2 de junho de 2013

Conto do Fantastiverso: Capítulos 3 e 4

Pessoal, desculpem a nossa falha, mas a responsável pelo blog, Elaine Velasco, andou tendo problemas com a internet e devido a isso o capítulo 3 não foi publicado aqui na semana passada, porém, seguem agora os capítulos 3 e 4 para vocês. Divirtam-se!
Capítulo 3

Eu podia sentir o seu medo. O seu chamado silencioso ecoando em minha mente enquanto eu disparava à sua procura, com todos os meus sentidos vampirescos em alerta. Algo estava errado, muito errado. E tudo o que conseguia pensar naquele momento era em Ceci. Em protegê-la. Nem mesmo meu amor por Aaron conseguia suplantar o desejo de encontrar e salvar aquela criança.
À minha volta, o silêncio era ainda mais assustador. E enquanto eu corria em direção aos quartos das crianças, tentava absorver o máximo de informações possíveis na esperança de descobrir o que estava acontecendo. Porém, os únicos cheiros que captava com meus sentidos aguçados eram ainda os mesmos de antes. Não obstante, havia algo mais, eu também podia sentir um terrível e conhecido odor se espalhando pelo ar, empesteando-o... O horrível cheiro da morte.
— Ceci! — sussurrei, ao entrar em seu quarto. Temendo que se falasse seu nome alto demais, pudesse colocá-la em perigo.
As luzes estavam apagadas e sua cama encontrava-se revirada e vazia. E ao ver aquela cena, senti como se dedos gelados e implacáveis estivessem se fechando em torno do meu coração. Um calafrio percorrera minha espinha. Desesperada e atordoada, eu direciono minha atenção para o guarda roupas e corro até ele, apreensiva. E sem pensar duas vezes, rapidamente abro as portas. A menina salta em meus braços, assustada e tremendo de medo.
— O que foi? O que aconteceu? — eu pergunto, erguendo-a em meu colo, mas ela nada diz. Estava em total estado de pânico. — O que foi? — eu volto a perguntar.
Mas Ceci estava assustada demais e chorava sem parar. Ela tentara falar, mas não conseguira; as palavras lhe escapavam da boca, embaralhadas e sem sentido.
 — Shhh! — eu lhe fiz sinal para que se acalmasse e a embalei em meus braços tentando reconfortá-la. Porém ao invés disso, eu a vi arregalar seus enormes olhos verdes, e escancarar sua boca, aterrorizada.
— E-eles estão... — ela tenta me alertar.
Algo estava vindo nos pegar. Eu pressenti o perigo às nossas costas, e todo o meu corpo se inundara de adrenalina, à medida que meu sistema nervoso se preparava para reagir. Meu coração começou a martelar contra meu peito; tão forte que eu podia ouvir o meu sangue pulsando em minhas têmporas. Eu precisava salvar Ceci, ela era tudo o que importava naquele momento. Daria a minha vida se preciso fosse para salvá-la. Se ao menos Aaron estivesse ali para me ajudar. Se ao menos eu tivesse lhe avisado que sairia à procura de Ceci, ao invés de deixá-lo desacordado no motel onde nos instalamos, quem sabe agora ele estivesse ao meu lado, protegendo nós duas: eu e essa linda e indefesa garotinha. Mas, ao invés disso, ali estava eu em um dos quartos do abrigo do Padre Miguel com Ceci em meus braços apavorada, e me preparando para enfrentar a presença terrivelmente ameaçadora que se aproximava. Agora não havia mais como voltar atrás, era lutar ou morrer. E eu escolhi lutar. Lutar para salvar Ceci e, principalmente, para voltar para Aaron. Então, resoluta e cheia de coragem, eu me viro com Ceci em meus braços, e encaro nosso destino.
Eu acordei molhada de suor e o silêncio me acolhera. Fora um pesadelo então? Ceci estava bem, afinal. Que alívio, eu pensei, respirando fundo para recobrar o fôlego.
Eu me levanto e deixo o meu quarto. Toda a Casa das Tochas jaz em um silêncio inquietante, da mesma forma que antes. Apenas barulhos ocasionais de louça, oriundos da cozinha, chegam aos meus ouvidos. Mas, fora isso, o silêncio impera incólume em toda a residência; perturbador e asfixiante.
Aaron me deixara sozinha e saíra com Nestor e os outros vampiros, na esperança de descobrir o que Stéfano e seus comparsas estavam tramando. E eu fiquei para proteger Ceci e me recuperar dos traumas recentes que sofri quando saí em busca de resgatar a menina. Mas valeu a pena, faria tudo de novo, se assim fosse preciso. Apesar de todos os riscos e de quase ter matado a nós duas.
Enquanto caminhava pela casa, fui, aos poucos, me dando conta de que não estava mais na Casa das Tochas, e sim na Casa de Campo — a luxuosa e alternativa morada de Aaron e seu covil de vampiros. Uma terrível angústia se apoderara de todo o meu ser quando pensei no quanto aquela residência significava para ele. No quanto ele gostava de morar lá. E então, repentinamente e sem que fossem convidadas, lágrimas começaram a brotar em meus olhos e escorreram quentes, sobre minhas bochechas. E eu ainda tentava afastá-las quando ouvi um súbito farfalhar semelhante ao bater das asas de uma ave. Porém, muito mais intenso, como se oriundo de enormes ou gigantescas asas. O que me deixou intrigada.
O som da campainha tocando obrigou-me a me recobrar do meu torpor e eu direcionei minha atenção à porta, para onde me encaminhei a fim de descobrir quem era o nosso convidado. E qual não foi a minha surpresa ao ver que se tratava de um homem alto, de cabelos e olhos escuros, penetrantes, e semblante austero.
— Pois não — disse, erguendo uma sobrancelha para ele —, posso ajudá-lo?
— Eu posso entrar?
— Claro — assenti, relutante, enquanto me afastava para que ele entrasse. — Por favor.
— Obrigado — ele responde já se encaminhando para dentro da sala. Porém, ao passar por mim, eu senti uma vibração percorrer todo o meu sistema nervoso. Um instinto tão primitivo quanto o próprio tempo se ativara, fazendo um arrepio de frio percorrer a minha espinha e eriçar meus pelos.
Havia algo muito errado com aquele homem, ou aquela criatura. Pois, fosse ele o que fosse, de uma coisa eu tinha certeza: ele não era humano. Como eu logo descobriria.
— Então, quer tomar alguma coisa, uma água, um café talvez.
— Ruby... — ele dissera, sorrindo com um canto da boca. — Eu sei que você já sacou que eu não sou humano, então, acho que podemos pular essa parte.
Eu senti o sangue subindo através de meu pescoço e minhas bochechas se aquecendo. Além de um completo estranho, nosso visitante era também, muito ousado.
 — Certo — disse —, nesse caso, quem é você e o que veio fazer aqui?
— Eu vou ser curto e grosso, Ruby — ele respondeu. — O meu nome é Samael e eu vim para falar com o seu líder, o Aaron. Será que você pode me fazer o favor de ir chamá-lo?
Surpresa, eu aperto os meus olhos para ele, e então respondo: — Você vem até a minha casa e acha que pode me dar ordens? Eu ao menos te conheço? Por que, sinceramente, eu não me lembro de já tê-lo visto antes.
Ele sorri provocadoramente e responde: — Será por que nós nunca fomos apresentados?
— Agora chega, sai da minha casa agora, antes que eu perca a minha paciência. E querido... Acredite em mim quando eu digo — sinto minhas feições tornando-se ameaçadoras, a besta dentro de mim ansiando por emergir, e falo pausadamente: — você não vai querer me ver brava.
Em resposta, Samael gargalha debochadamente e se aproxima de mim.
— Ok, Ruby. Foi um prazer falar com você... Brincar com você. Agora, será que pode me chamar o seu líder? Minha conversa só diz respeito a ele.
Eu senti o sangue me subindo novamente, a raiva aumentando.
— O Aaron não está em casa. Seja lá o que for que tem pra falar com ele, pode tratar comigo mesma.
Samael gargalha novamente com escárnio.
— Com você?
— Qual é a graça? Você não tem educação não? Seus pais não te ensinaram a ter respeito pelas pessoas?
Em resposta, o semblante dele se obscurece e duas imensas asas cinzentas emergem em suas costas.
— Ruby, você não faz a menor ideia das forças que estão em movimento nesse momento no tabuleiro. Então, como disse, eu não vou perder o meu tempo discutindo assuntos, ou coisas de extrema importância, com você.
O anjo caído me vira as costas e afasta-se em direção à saída.
— Eu não serei ignorada dessa maneira! — bradei, e usando minha velocidade vampiresca atravesso na frente do anjo. — Você vai falar comigo de qualquer maneira agora.
— Saia da minha frente!
— Não!
— Não me obrigue a forçá-la — avisa ele, seus lábios comprimindo-se para formar apenas uma linha levemente avermelhada.
— Eu já fui considerada uma rainha, não serei humilhada dessa forma!
— Você se acha realmente especial, não é? — ele caçoa. — Deve ser por conta desse seu sangue amaldiçoado que corre em suas veias e que permite que um monstro como você perambule por aí em pleno dia.
Quando dera por mim, meu punho já o havia arremessado para longe, pegando-o de surpresa.
— Sua vadia! — exclama ele —, como você ousa? — seu rosto tornara-se uma máscara obscura.
O anjo partira para cima de mim, mas eu rapidamente desviei de seus ataques. Seus socos encontravam apenas as paredes e o assoalho, o que fora aos poucos, destruindo toda a mobília da sala e os quadros que até ainda pouco, ornamentavam as paredes da sala.
— Não pode me pegar — eu provoquei —, mas eu sim. — eu rapidamente me posicionei atrás dele e agarrei suas asas, impedindo-o de voar.
— Há, acha que basta isso para me conter? — ele interroga — Eu era um comandante celestial, sua rameira.
Meus sentidos ainda tentaram me alertar, porém já era tarde demais. Poderosas rajadas de energia se dispersaram do corpo do anjo e me atingiram, não uma, mais várias, centenas de vezes, enquanto meu corpo era projetado para longe, só se detendo ao se chocar contra o teto para, em seguida, se esborrachar no chão.
— Nunca mais ouse me desafiar novamente vampira, ou então, eu não serei tão misericordioso quanto hoje — ele me alerta.
— Não! — eu exclamei, furiosa —, eu nunca mais o desafiarei novamente... — pois eu vou matá-lo! — Novamente eu me lancei contra o ex-celestial e novamente fui barrada em pleno ar.
Energias incandescentes crepitavam de seus dedos, paralisando todos os meus músculos, e impedindo que eu me movesse. Não conseguia pensar direito também, pois havia a voz... A voz dele estava dentro de minha cabeça, me sussurrando coisas, relatando terríveis verdades primitivas que ninguém deveria ter ciência, pois estavam além do conhecimento humano, bem como do meu.
Subitamente, enquanto o anjo me torturava, uma corrente de ar gelada começou a circular ao nosso redor. Sua força foi gradativamente aumentando e o anjo desviou sua atenção de mim para se voltar para uma garotinha que se aproximava de nós com os braços levemente erguidos ao lado do corpo e recitando palavras, preces em uma língua que eu jamais havia ouvido antes. E seus olhos... Os olhos dela brilhavam, incandescentes em meio ao transe. O que Ceci estava fazendo?
— Ceci não... — eu gritei para ela, em alerta — Saia daqui agora.
A menina não me ouviu e continuou falando no mesmo dialeto estranho, detendo-se a alguns metros de mim, que ainda estava sob a influência de Samael.
— Sai da minha cabeça, bruxa! — eu ouvi o anjo gritar pra Ceci.
Ao invés disso, ela erguera os braços e a ventania se transformou em um ciclone no meio da sala, arrastando tudo em seu caminho, relâmpagos atravessaram o corpo de Samael e ele gritou em agonia, finalmente me soltando.
— Ceci, pare! — eu gritei novamente, tentando despertá-la do transe. Contudo, ela mantivera seu ataque, os olhos ardendo em uma fúria desmedida, vidrados.
Samael continuava gritando, seu corpo se transformando em um facho de luz, que aos poucos foi se desintegrando, até desaparecer em meio a um clarão luminoso. Só então os olhos de Ceci se apagaram e seu corpo diminuto caíra ao chão, desfalecido. Eu corri até ela e a peguei em meus braços.
— Ceci — disse —, acorda!
Com esforço, ela abre seus imensos olhos verdes para me encarar, como se acordando de um sonho.
— Agora estamos quites — ela diz com sua voz infantil.
— Quites?
— É, você me salvou dos homens maus e agora eu salvei você daquele demônio.
— Como você fez aquilo? Poderia ter morrido.
— Eu precisava salvar você, então entrei na mente dele e conjurei aquele encantamento. Estava tudo lá, na cabeça dele.
— Nunca mais faça isso de novo, está me ouvindo? Nunca mais.
Ela nada dissera, apenas me abraçara com força. E naquela hora, só Deus poderia saber o quanto isso bastava. Eu mais uma vez agira por impulso e coloquei não apenas a minha, mas também a vida dela em perigo. E, por motivos desconhecidos, quis o destino que fosse a própria Ceci a salvar nossas vidas dessa vez. Aaron logo mais chegaria e eu muito teria que explicar a ele, bem como enfrentar a desconfiança e o repúdio de Nestor também. Mas, em face do que acabara de acontecer, eu consideraria isso um bônus; uma punição por novamente me deixar levar pela raiva e não pela razão. Afinal, o que poderia o ancião e mentor de meu amado fazer, que eu já não tivesse lidado antes?

Capítulo 4

Samael sabia que não seria fácil convencer o caído a se juntar a ele, mas tinha um trunfo em suas mãos e o usaria a seu favor caso fosse necessário.    
            Pietro era um dos mais novos anjos caídos enviados pelo próprio Lúcifer para corromper a alma de uma garota nefilim, mas fraco como a maioria, deixou-se influenciar pela vingança e o ódio que tinha pelo irmão Pierre. Apesar dos anos de reclusão após sua queda, Samael ouvia historias e conhecia muito bem as fraquezas dos anjos para saber que Pietro aceitaria unir-se a ele contra a nefilim, o anjo e seu Pai.
            O jovem anjo estava sentado no lado norte do Museu do Ipiranga, observando a lua cheia que iluminava a cidade de São Paulo. Não possuía asas, mas tinha um dom especial para conseguir se deslocar até ali. Com a possibilidade de se exibir, Samael sobrevoou o local até que fosse visto pelo caído e só então pousou ao lado dele, no telhado.
            Pietro, um moreno sisudo com feições italianas, levantou-se e o encarou. Tinha escoriações no rosto e lábios, bem como nas mãos, indicando um confronto recente.
             O que é você? — questionou ao notar as asas cinzentas, diferentes das dos anjos que conhecia.
             Samael. Sou um jinni — explicou, aguardando para ver seu semblante mudar ao reconhecê-lo. Pietro conhecia as historias dos que foram lançados junto com Lúcifer, mas que não queriam segui-lo, ficando exilados de ambos os lados. Porém, o caído não sabia que eles ainda possuíam asas e o invejou. Samael sorriu vangloriando-se e pôs-se a falar. — Sabe a que vim, caído?
             Não — Pietro o analisou. Samael fazia-o se recordar de seu irmão. Tinha modos um tanto rudes e a arrogância estava presente em seu sorriso. Quis dar-lhe as costas e voltar à melancolia de não saber como manchar a alma de Suzanna agora que estava apaixonado, mas manteve o olhar no dele.
             Uma guerra está para acontecer. Estou reunindo meus filhos e vim oferecer-lhe um lugar em meu exército; a meu lado.
             Uma guerra? E a quem você serve? A Lúcifer? — desdenhou.
             Não necessariamente. 
             Eu não sirvo a mais ninguém. Apenas a mim mesmo, não pretendo entrar em mais nenhuma contenda — deu as costas ao jinni e suspirou, sentando-se à beirada do telhado, olhando abaixo o Museu se estendendo, silencioso devido à madrugada.
             Tampouco eu sirvo a senhor algum. Mas lhe asseguro que temos inimigos em comum e apenas isso, creio ser o suficiente para nos unir. Tempos sombrios se aproximam e é importante criar alianças.
            — Inimigos em comum? A quem se refere?
— Creio que sabe de quem estou falando — disse, erguendo a sobrancelha esquerda. — Acaso não ouviu falar de Noah, o nefilim?
— O que tenho eu a ver com isso?  
            — Ora, então não sabes que Pierre é o responsável por tomar conta do moleque?
Pietro virou o rosto fitando-o. Todos os desejos mortíferos contra o irmão brotando de uma só vez em sua mente. Pensou em Veronique e também em Suzanna e se ergueu, ainda encarando Samael.
             Não quero a morte de meu irmão — proferiu entre dentes, enquanto Samael sorria maliciosamente, aguardando o desfecho daquelas palavras. — Quero que ele sofra. Muito.
             O que você quiser — respondeu o anjo da morte. — Eu só quero o maldito nefilim.
            Estendeu a mão para selar aquela promessa. Pietro hesitou por um instante, mas a apertou firmemente. Assim que Samael desapareceu, questionou-se em que havia se metido. Só dava passos errados desde que se apaixonou por aquela maldita humana.
            Não muito longe dali, Pierre ouvira tudo e sabia que teria uma árdua tarefa pela frente. Tinha esperanças em resgatar seu irmão e até aquele momento acreditava que Pietro havia mudado, afinal, não obrigara Suzanna a pecar em nenhum momento, mesmo tendo chances. Agora, começava a acreditar que os planos de Pietro eram, na verdade, confundi-lo e fazer com que baixasse sua guarda. Precisava avisar seus superiores, mas sem alarde, ou a guerra seria facilmente vencida... pelo lado errado.


quarta-feira, 15 de maio de 2013

Conto do Fantastiverso - Capítulo 2

Nesse capítulo, temos novamente Samael, do livro Limiar de Elaine Velasco, dessa vez "contracenando" com Ariel, do livro O Ceifeiro de Al Gomes


Capítulo 2
Empoleirado sobre o teto do Masp, Samael observa a metrópole adormecida. Absorto em pensamentos, nem mesmo a tempestade que assola a cidade parece incomodá-lo. Apenas a chegada de um ser feito de pura energia, que aos poucos toma a forma de um homem com imensas asas é capaz de fazer com que ele mova a cabeça para a direita. Entretanto, ao constatar sua identidade, ele volta à sua apatia e sua posições iniciais, limitando-se a cumprimentar o visitante:
- Olá Ariel.
- Boa noite comandante.
- Não sou mais seu comandante há milênios, Ariel.
- Porém, jamais deixei de respeitá-lo Samael, por tudo que passamos juntos quando liderava o exército dos ceifeiros.
Samael soltou um suspiro entediado.
- Afinal, o que o traz até aqui velho amigo? Sei que não se trata de uma visita cordial.
- Sei o que está planejando Samael, e muitos de nossas hostes também o sabem. Vim pedir para que pare. É loucura, não vai dar certo.
- E que escolha tenho eu Ariel? Se nosso Pai me deu as costas e estou agora preso nessa guerra entre Ele e Lúcifer? Já sofri demais por não tomar partido.
- Sei que não é isso que o motiva. De verdade.
O silêncio imperou entre os dois por longos instantes, até que o antigo comandante o quebrou:
- Quem é você para me julgar Ariel? Bem sei que andas envolvido com aquela humana, aquela cuja alma deveria ceifar...
- Como sabes disso?
- As notícias correm, meu irmão. Toma cuidado.
- Não é o que estás pensando.
- Não? Já vi muitos anjos caírem Ariel, sei bem como tudo começa...
-  Acaso refere-se a Leuviah? Ele já vinha se corrompendo há muito tempo...
- Não fale desse maldito diante de mim! – dizendo isso, o anjo de asas cinzentas pôs-se em pé, punhos cerrados encarando o antigo companheiro.
- Acalme-se Samael, não vim reabrir velhas feridas. Só vim avisar-lhe.
- Pois então, fica também você com um aviso: Se continuares pelo caminho que estás trilhando, logo estarás ao meu lado, lutando contra as legiões de nosso Pai, logo serás mais um anjo caído.
Tomado de assombro pela severidade das palavras emitidas pelo antigo comandante, Ariel enrolou-se em suas asas e transformou-se numa imensa bola de energia que sumiu nos céus tão rapidamente quanto havia surgido.